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Partos no domicílio. Por quê?

Pai e filho

Conheça a posição conjunta do Colégio de Neonatologia da Ordem dos Médicos e da Sociedade Portuguesa de Neonatologia.

          A idade moderna da Medicina Perinatal em Portugal começou ainda não há 25 anos após a reforma dos cuidados de saúde efectuada nesta área pela Comissão Nacional de Saúde Materno Infantil.
         A centralização de partos em hospitais com volume suficiente para uma equipa ser considerada experiente, em maternidades equipadas com cardiotocógrafos, monitores maternos e neonatais, assistência obstétrica, pediátrica e anestésica 24h por dia, enfermeiros de obstetrícia e de neonatologia em número e com formação adequados, unidades de cuidados intermédios ou intensivos neonatais com equipamento adequado e profissionais diferenciados, a par de um sistema de transporte neonatal, exemplar em todo o mundo até há bem pouco tempo, trouxeram Portugal dos confins dos países subdesenvolvidos para o topo. Estamos nos primeiros lugares do mundo no que respeita a taxas de mortalidade materna, fetal, perinatal, neonatal e infantil. 
          Portugal tem sido um caso de estudo, a organização de cuidados perinatais um exemplo e tema de múltiplas intervenções, palestras, referências e pedidos de colaboração com governos, ministérios de saúde ou outras instituições. Pode argumentar-se que não foi só a organização mas também a melhoria de condições socioeconómicas. Eventualmente sim. Veremos - se nos derem tempo para isso. Mas da organização fez parte a formação profissional, um dos aspectos frequentemente esquecidos quando falamos de sucesso; a centralização de recursos de modo a que o volume permitisse uma boa experiência; o equipamento; o trabalho em equipa; as pessoas.
          É nossa obrigação defender esta organização em honra dos que construíram este futuro que agora nós presenciamos. Com este esforço, foi conseguido que a taxa de partos hospitalares quase atingisse os 100%. O quase, é muito devido aos segundos filhos sempre com pressa de nascer.
          As mães das actuais parturientes ainda nasceram em casa. Na altura em que nasceram as suas filhas, no final da década de 70 do século passado, a mortalidade materna em Portugal era de 30,6/100 000 partos; de 2004 a 2009 as mortes por gravidez, parto e puerpério foram zero. A mortalidade fetal tardia por 1000 nados vivos+fetos mortos com mais de 28s foi de 11,7 em 1980 e de 2,4 em 2010; a perinatal por 1000 NV+fetos mortos com IG > 28s era 25,5 em 1979 e 3,5 em 2010; a neonatal por 1000 NV era 15,7 em 1979 e 1,7 em 2010. A mortalidade infantil por mil nados-vivos era 77,5 em 1960, 24,3 em 1980 e 2,5 em 2010. Tudo isto num quarto de século. E, ainda mal estabelecida a solidez destas medidas, vêm-nos acenar com partos domiciliários. Digam-nos porquê.  
         Os pais podem assinar um termo de responsabilidade para um parto domiciliário, mas só farão isso na ignorância do que pode acontecer. Poderá ser de livre vontade, terem sido esclarecidos, mas continuarem ignorantes. Muito frequentemente estão na ilusão e romantismo do nascimento do primeiro filho, que será sempre o que terá o parto mais difícil. E esse será em casa. Expliquem-nos porquê. Certamente não é para melhorar a probabilidade de morte materna ou fetal/neonatal nem tão pouco a de asfixia e consequente paralisia cerebral e atraso cognitivo. 
          Por alguma razão a arquitectura moderna hospitalar inclui o bloco operatório de obstetrícia no bloco de partos de modo a que um descolamento de placenta possa não resultar na morte da mãe e do feto, um prolapso do cordão não resulte em feto morto ou uma distócia dinâmica não resulte em severa asfixia perinatal. 
          Uma emergência obstétrica não se compadece com chamar ambulância e transportar uma parturiente para o hospital mais próximo por muito próximo que seja. A ajuda médica tem que estar no local. É sabido da literatura e da experiência como terminam alguns partos domiciliários, sabemos as taxas de mortalidade em países onde ainda é prática. Sabemos o que éramos, mesmo que nos digam que não somos agora o que éramos na altura. É que, morte ou sequela cerebral grave, são lesões pessoais e irreversíveis.
 
                                           Maria Teresa Neto
(Coordenadora do Colégio de Neonatologia da Ordem dos Médicos)
 
                                           Almerinda Pereira
           (Presidente da Sociedade Portuguesa de Neonatologia)
Lisboa 30 Março de 2012