Recomendações elaboradas pela Sociedade de Infecciologia Pediátrica/SPP, em Agosto 2009
Em Portugal a vacina da varicela não está incluída no Programa Nacional de Vacinação (PNV) mas está autorizada pelo INFARMED e disponível para prescrição médica.
Foi neste contexto que a Sociedade de Infecciologia Pediátrica (SIP), em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), organizou um workshop sobre a vacina contra a varicela, cujas conclusões aqui se resumem e que pretendem servir de orientação para a sua utilização no nosso país.
INTRODUÇÃO
O vírus varicela-zoster (VVZ) é o agente causal da varicela e do herpes zoster. A varicela é uma doença predominantemente da infância, benigna e altamente contagiosa, com taxas de transmissão aos contactos susceptíveis de 61-100%(1). Pode contudo associar-se a complicações graves, quer associadas a sobre-infecção bacteriana (celulite, pneumonia, fasceíte, choque tóxico), quer ao próprio VVZ (cerebelite, encefalite, pneumonia). Estas ocorrem sobretudo em situações de imunodeficiência celular, mas também em crianças previamente saudáveis. Nas leucemias e transplante de órgão, cerca de 50% das crianças desenvolvem complicações com uma mortalidade global de 7 a 17% se não forem tratadas com aciclovir2.
Os adolescentes e os adultos são mais susceptíveis a complicações graves, com um aumento vinte vezes superior na mortalidade entre os 15 e os 44 anos(3,4).
A infecção na grávida acarreta um risco adicional para a mulher, nomeadamente pela maior incidência de pneumonite que, sem tratamento, pode ser fatal em cerca de 40% dos casos5. Também no feto, pode ocorrer a síndrome de Varicela Congénita6 e, no recém-nascido, varicela grave quando a doença materna se manifesta 5 dias antes ou 2 dias após o parto.
A infecção por VVZ pode ressurgir anos ou décadas mais tarde na forma de herpes-zoster (HZ), situação que pode evoluir com complicações semelhantes às da varicela. Esta reactivação afecta 10-30% da população e está associada a uma morbilidade e mortalidade significativas nos indivíduos idosos e nos imunocomprometidos (7).
A OMS recomenda que as actuais vacinas contra a varicela só devem ser utilizadas na criança se se assegurar uma cobertura vacinal acima dos 85-90%, pelos riscos que a alteração epidemiológica induzida pode acarretar( 8).
A vacina da varicela está disponível nos EUA desde 1995 com recomendação de vacinação universal. Na Europa, encontra-se actualmente recomendada para vacinação universal na Alemanha, Espanha, Itália, Holanda e Suiça (9-11).
(...)
Portugal deve seguir as recomendações da OMS, que se traduzem por só considerar a vacinação das crianças contra a varicela através da introdução da vacina no PNV. A vacinação dos adolescentes e adultos susceptíveis não acarreta o risco de alteração da epidemiologia e permite proteger uma população em maior risco de doença grave.
A SIP recomenda que a vacina da varicela seja administrada em:
Adolescentes (11-13 anos) e adultos susceptíveis
Grupos de risco:
• Indivíduos não imunes em ocupações de alto risco (trabalhadores de saúde, professores, trabalhadores de creches e infantários)
• Mulheres não imunes antes da gravidez
• Pais de criança jovem, não imunizados
• Adultos ou crianças que contactam habitualmente com doentes imunodeprimidos
A vacinação pré transplante renal28,29, e na criança com infecção VIH com contagem de CD4 < 15% pode ser considerada, preferencialmente incluída num plano de vigilância que permita aferir a sua tolerância e eficácia.
Sugere-se que previamente à vacinação se determinem os anticorpos IgG para o VVZ nos indivíduos com história negativa ou incerta de infecção prévia a VVZ. Face à alta prevalência de seropositividade em Portugal e ao baixo valor preditivo negativo de história anterior de varicela, esta atitude será muito provavelmente custo-efectiva.
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